sábado, 29 de março de 2008

Da série: pequenos orgasmos

Pintura - Henri Matisse

*Mesmo erótico o poema, o poeta se repleta de Deus para criar.

*Cortejada minha alma, meus olhos, meu mendigar, meu riso pálido, à celebração de nenhum haver.

*Haver um eles, é uma coisa singular.

* Habitar uma palavra triste é coisa que faço com alegria.
O paradoxal me psicologia.

* São as palavras que silenciam o mundo.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Ofícina Literária

Didática da criação, acordar as palavras, acarinhar as palavras, vivificar a leitura, gramaticar erros e elucidar a experiência literária, foram propostas trabalhadas na minha oficina literária de poesia, realizada na Escola Professora Francisca Lira Leite de Brito com alunos da 6ª série.

Precisa-se acarinhar as palavras para logo depois fazer amor com elas.
Acordar a palavra e rir de sua cara de sono.


Durante a ofícina, descobri-me um erro gramaticado.



Poetas trabalhados durante a oficina: Manoel de Barros, Fabrício Carpinejar, Palmeira, Dedé Monteiro e Zeto.

Este participante levou tão a sério a idéia de acordar as palavras, que perguntou se podia “Gonzagar as palavras" (fazendo referência ao rei do baião). Foi aí que percebi que a oficina já surtia efeito. (risos)


Essa gatinha da foto, extremamente bem enquadrada com contorno amarelo, protagonizou o momento mais encantador da oficina. Quando gritei; - Pronto, agora vamos brincar com as palavras!
Ela puramente correu, pegou o dicionário que estava sobre minha perna, o jogou no chão e começou a chutá-lo.
Ela brincou com as palavras como Ronaldinho costuma brincar com a bola.


Fotos: Ser Iza
Ps: A autora dos gols com as palavras não participava diretamente da ofícina, estava acompanhando sua irmã. Imaginem se estivesse.

terça-feira, 25 de março de 2008

O amor nunca parte.

Pintura - John William Waterhouse
Um amor nunca parte. Ficam os cheiros, os hábitos, os livros repletos de suas pálpebras, a solidão acompanhada. Um amor nunca parte. Fica o delírio do corpo a espera das mãos, o delírio do copo sem espera nenhuma, fica a ausência da embriaguez que se queria sua. Um amor nunca parte, fica o seu perfume povoando todos os lugares, sendo todos os lugares, residindo na pele da alma, perfumando o tom da voz, dando cheiro ao corpo da ausência. O cheiro do amor é algo insuperável, onipresente, é algo insinuante. É uma existência tão dentro que não sabemos nossa.
Na memória poética, fica a doçura do olhar, a ternura das mãos, o choro mansinho, o sorriso brotado quando triste. Ficam na pele os atalhos que suas mãos construíram e que não mais levam ao prazer.
Um amor nunca morre, ele nasce em outro lugar da nossa alma. Um amor nunca parte inteiro porque nunca esteve pleno, foi sonho mesmo o real lhe acontecendo.
O amor e sua partida vieram do mesmo ventre. O amor existe do jeito que sonha; sua partida existe do jeito que doe.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Meus 100 livros essenciais. Livros que me edificaram

Pintura - Van Gogh


1 - Dom Quixote-Miguel Cervantes (1547-1616) Espanha
2 - Os Mais Belos Contos-Hans Christian Andersen (1805-1875) Dinamarca
3 - Orgulho e Preconceito-Jane Austen (1775-1817) Inglaterra
4 - Trilogia: Molloy, Malone está a morrer, O Inominável,-Samuel Beckett (1906-1989) Irlanda
5 - O Estrangeiro-Albert Camus (1913-1960) França
6 - A Divina Comédia-Dante Alighieri (1265-1321) Itália
7 - Grandes Esperanças-Charles Dickens (1812-1870) Inglaterra
8 - Crime e Castigo-Fyodor Dostoyevsky (1821-1881) Rússia
9 - O Idiota-Fyodor Dostoyevsky (1821-1881) Rússia
10 - O Som e a Fúria-William Faulkner (1897-1962) U.S.A
11 - Memórias de Adriano-Marguerite Yourcenar (1903-1987) Bélgica
12 - Mrs. Dalloway-Virginia Wolf (1882-1941) Inglaterra
13 - Folhas de Erva-Walt Whitman (1819-1892) U.S.A.
14 - Guerra e Paz-Leon Tolstoy (1828-1910) Rússia
15 - Vermelho e o Negro-Stendhal (1783-1842) França
16 - Hamlet-William Shakespeare (1564-1616) Inglaterra
17 - O Assassinato de Cristo- Wilhelm Reich (1897-1957) EUA
18 - O Livro do Desassossego-Fernando Pessoa (1888-1935) Portugal
19 - 1984-George Orwell (1903-1950) Inglaterra
20 - A Montanha Mágica-Thomas Mann (1875-1955) Alemanha
21 - Zorba, o Grego-Nikos Kazantzakis (1883-1957) Grécia
22 - O Som da Montanha-Yasunari Kawabata (1899-1972) Japão
23 - A Metamorfose-Franz Kafka (1883-1924) Rep. Checa
24 - Ulisses-James Joyce (1882-1941) Irlanda
25 - O Velho e o Mar-Ernest Hemingway (1899-1961) U.S.A.
26 - Almas Mortas-Nikolai Gogol (1809-1852) Rússia
27 - Madame Bovary-Gustave Flaubert (1821-1880) França
28 - Cem Anos de Solidão-Garcia Marquez (1928) Colômbia
29 - Amor em Tempos de Cólera-Garcia Marquez (1928) Colômbia
30 - Os Miseráveis-Victor Hugo (1805 – 1885) França
31 -O Retrato de Dorian Gray-Oscar Wilde (1854 – 1990) Irlanda
32 - Cândido-Voltaire (1694 – 1778) França
33 - Dom Casmurro-Machado de Assis ( 1839 – 1908) Brasil
34 - Memórias Póstumas de Brás Cubas-Machado de Assis
35 - Os Sertões-Euclides da Cunha (1866 – 1909) Brasil
36 - Lavoura Arcaica-Raduan Nassar (1935) Brasil
37 - Um Copo de Cólera-Raduan Nassar (1935) Brasil
38 - A paixão Segundo G.H.-Clarice Lispector ( 1920 – 1977)Brasil
39 - Perto do Coração Selvagem-Clarice Lispector ( 1920 – 1977) Brasil
40 – Uma Estação no Inferno-Arthur Rimbaud (1854 – 1891) França
41 - A Crucificação Encarnada "Sexus, Plexus, Nexus"-Henry Miller (1891-1980)
42 – Assim Falou Zaratustra-Friedrich Wilhelm Nietzsche ( 1844 – 1900) Alemanha
43 – O Anticristo-Friedrich Wilhelm Nietzsche ( 1844 – 1900)
44 - O Jogo da Amarelinha-Julio Cortázar (1914 – 1984)
45 - O Pequeno Principe-Antoine de Saint-Exupéry (1900 – 1944) França
46 – A Insustentável Leveza do Ser-Milan Kundera (1929) Tchecoslováquia
47 - Werther-Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) Alemanha
48 - Poemas Escolhidos - Ezra Pound ( 1885 1972) EUA
49 – Poemas-William Butler Yeats (1865 – 1939) Irlanda
50 – Demian-Herman Hesse (1877 – 1962) Alemanha
51 – O Amante-Marguerite Duras (1914 – 1996) França
52 – Olhos Azuis Cabelos Pretos-Marguerite Duras (1914 – 1996) França
53 – Cartas a Um Jovem Poeta-Rainer Maria Rilke (1875 – 1926) Suiça
54 - A Humanidade da Mulher-Lou Andreas-Salomé (1861- 1937) Rússia
55 – A Náusea-Jean Paul Sartre (1905 – 1980) França
56 – A vida modo de Usar-Georges Perec (1936 – 1982) França
57 – Nossa Senhora das Flores-Jean Genet (1910 – 1986) França
58 - O Apanhador no Campo de Centeio-J.D.Salinger (1919 – 1998) EUA
59 – O Principe-Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) Italia
60 – História da Loucura-Michel Foucault (1926 – 1984) França
61 – O Leorpado-Giuseppe tomasi di Lampedusa (1896 – 1957) Italia
62 – Eugenie Grandet-Honore de Balzac (1799 – 1850) França
63 – O Lobo da Estepe-Herman Hesse (1877 – 1962) Alemanha
64 – Os Mandarins-Simone de Beauvoir (1908 – 1986) França
65 – Fome de Amor-Anais Nin (1903 – 1977) França
66 – Morte e Vida Severina-João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999) Brasil
67 – Grande Sertão: Veredas-João Guimarães Rosa (1908 – 1967) Brasil
68 – Catatau-Paulo Leminski (1944 – 1989) Brasil
69 – A Obscena Senhora D- Hilda Hilst (1930 – 2004) Brasil
70 – Ópera dos Mortos-Autran Dourado (1926 - ) Brasil
71 – Invenção de Orfeu-Jorge de Lima (1893 – 1953) Brasil
72 – Poema Sujo-Ferreira Gular (1930 - ) Brasil
73 – Morangos Mofados-Caio Fernando Abreu (1948 – 1996) Brasil
74 – Mar Absoluto-Cecilia Meireles (1901 – 1964) Brasil
75 – Paulicéa Desvairada-Mário de Andrade (1893 – 1945) Brasil
76 - On the Road-Jack Kerorac (1922 – 1969) EUA
77 – Howl-Allen Ginssberg (1926 – 1997) EUA
78 – Almoço Nu- William Burroughs (1914 – 1997) EUA
79 - O Nome da Rosa-Umberto Eco (1932 - ) Italia
80 – Quatro Quartetos-T.S.Eliot (1888 – 1965) Inglaterra / EUA
81 – O Sofredor do Ver-Maura Lopes Cançado ( 1967 – 1993) Brasil
82 – Sísifo-Marcus Accioly (1943 - ) Brasil
83 – As Bodas do Poeta-Antonio Skármeta (1940 - ) Chile
84 – Ensaio Sobre a Lúcidez-José Saramago (1922 - ) Portugal
85 – Objecto Quase-José Saramago (1922 - ) Portugal
86 – Aléxis ou O tratado do Vão Combate-Marguerite Yourcenar (1903-1987) Bélgica
87 – A Cinza das Horas-Manuel Bandeira (1886 – 1968) Brasil
88 – De Poetas e de Poesia-Manuel Bandeira (1886 – 1968) Brasil
89 – Livro sobre Nada-Manoel de Barros (1916 - ) Brasil
90 – As Flores do Mal-Charles Baudelaire (1821 – 1867) França
91 – O Retorno e Terno-Rubem Alves (1933 - ) Brasil
92 - À Sombra das Raparigas em Flor-Marcel Proust (1871 – 1922) França
93 – Poemas-E.E Cummigs (1894-1962)
94 – Elogio da Loucura - Erasmo de Roterdan ( 1466 - 1536)
95 – Antologia Poética-Federico García Lorca (1898 – 1936) Espanha
96 – O Profeta-Khalil Gibran (1883 – 1931) Libano
97 – Diários-Silvia Plath (1932 – 1963) EUA
98 – A Teus Pés-Ana Cristina Cesar (1952 1983) Brasil
99 – Mitologia do Kaos-Jorge Mautner (1941 - _)
100 – Casa Grande & Senzala-Gilberto Freire (1900 – 1987) Brasil

quinta-feira, 20 de março de 2008

Da série: Pequenos orgasmos

Pintura - Salvador Dali


* Chorei em tantas paisagens
que sempre é inverno a estação
de minha alma.


* A minha loucura quando chove
umedece a razão de sede.

* Há muito ser na solidão da loucura.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A minha morte se morreu.

Pintura - Pablo Picasso

A minha morte cometeu suicídio em plena primavera. Achou-a a mais bela das estações. Desejava partir com cheiro de vida e jasmim.
A minha morte “se morreu”.
Quando o clima estava propicio para o amor, a minha morte se matou. Quando os meus olhos pediam que viesse, ela resolveu partir. Não sei com qual roupa, não sei se a paisagem era propicia para tal encantamento. Não sei se ela me amava, se me queria perto, se meus lábios eram por ela desejados. Minha morte não deixou bilhete, testamento, nem romance escrito. A minha morte madrugou meu olhar. A minha morte não suportou o seu amor pela vida. Avistei minha morte pela primeira vez em uma mesa de bar. Ela tomava vinho tinto, tinha unhas escarlates, lábios rubros, cigarro entre os dedos e falava silente. Havia um outro copo sobre a mesa e um poema encharcado de vinho. Havia espera.
A minha morte me aguardava enquanto eu delirava para vida.
Queria saber sua idade. De quantas vidas havia provado. Por quantas vidas se apaixonou. Quantos amores a acometeram, quantos poemas lhe prestaram tributo. A minha morte me deixou um vazio absurdo. Com isso, pude compreender que ela também me era.
Ainda há companhia.
A minha morte me avizinha, mesmo, depois de ida.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Embebido de verbo

Pintura - Jean Basquiat


Hoje existi como quem habita um poema do Rimbaud. Encharcado de vinho e liberdade. Embebido de verbo. Sua poesia entardeceu meus olhos. Sua poesia tingiu de crepúsculo o meu olhar. Nomeio meus poemas para fingir intimidade. O que escrevo é o que me escapa, o que me transborda, o que me inunda. Meu desconhecido me envaidece, me faz poeta.
Hoje acordei com cheiro de palavras nas mãos. Com a alma tatuada de verbo, com a elegância do silêncio da voz.
Hoje algum poema me residiu.

Agora, deixou-me para o sono das palavras.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Para ter a alegria de dizer que não sou normal. E que escrever é a loucura de gramaticar erros.

Pintura - Oswaldo Guayasamín


Eu me falou que se entrega inteiro para a vida, por causa das mortes que teve. Diz que sua intensidade nasceu delas. Eu me confessa que tem medo de ficar só. E que minha companhia é solidão.
Particularmente amo suas mortes. Há vida demais nelas. Espero que suas mãos me conduzam. Espero que Eu me leve para qualquer existir. Eu se diz repleto de mim.
Queria receber teus olhos. Queria provar teu me ser.
Eu me diz que não tem olhos, e seu mim é navalha cortando a carne do verbo.
O meu dia é este hoje. O que tu me sou. O meu dia é esta noite impune e desmemoriada a tanto. O meu ser é este eu delirante. O meu dia é este ontem dando mais eu a este sou. Aconteço em consonância com a tempestade de mim. Tempesteio. Eu me inunda de si. Eu me transborda. Eu me sussurra.
Assustadiço Eu contempla minha ebriedade. É vida pulsando dentro de mim este Eu. Rezo minha loucura. Santifico-a com a enfermidade do verbo. As palavras me vestem e me desnudam.

Não tenho alma. Uma alma me tem.
Mendigo um me ser.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Poemeio

Pintura - Oswaldo Guayasamín


Em sua solidão o poeta chora o que não é chorado.
Em sua solidão, o poeta cria outras solidões
e passa a brincar com elas.

Em sua solidão, o poeta poema o que é silêncio.

Em sua brincadeira de verbalizar silêncios,
o poeta jardina o deserto de si.

Deserta de si qualquer lugar.

terça-feira, 4 de março de 2008

Crítica sobre o meu terceiro livro; Prece ao Pecado - Romance

Modelo da capa: Lellis Vasconcelos - Foto: J. Nogueira
Prece ao Pecado, terceiro livro do escritor e poeta Alessandro Palmeira, logo no título nos induz à reflexão e ao complexo que permeia toda a obra. O livro traz em si não só uma história envolvente, mas traços da complexa personalidade do autor e os devaneios a ela inerentes. O romance recende a sexo, poesia, prece e pecado.
O poético transborda de cada frase, o que é peculiar ao escritor de “Deus no Hospício,” que sabe sugar o néctar do poético e com ele embriagar a alma do leitor, tantas vezes sedenta de ebriedade.O romance revela, com profunda densidade psicológica, a fragilidade, os medos, os desejos e a “ternura de passarinho dormindo” que habitam a alma feminina das mulheres que são todas Helenas, e das Helenas que são todas as mulheres. Conseqüentemente as nossas melhores preces, os nossos melhores pecados. Com dulcíssima ternura, escreve o escritor: “Por ti abandonei as palavras. Tentei verbalizar o silêncio”. e “ O que há de grito em mim, me silencia.”


Manoel Teixeira de Lins
Psicólogo e Escritor

domingo, 2 de março de 2008

Da série: Longínquos Amores – Beatriz

Pintura - Jean Delville
Suas mãos eram elegantes. Pareciam reger uma orquestra imaginária. Seus olhos pareciam desfilar na passarela de meus delineamentos, quão atentos e altivos eles me fitavam. Seus olhos negros se misturavam a noite. Estando com ela, mesmo de dia, eu tinha a companhia da noite de seus olhos. Da noite que eram seus olhos. Seus cílios eram tristes, o que tornava o seu ocaso mais poético. Sua pele era delicada, convidativa para um passear de mãos tenras e dedos estarrecidos. Seus cabelos emolduravam com fineza a formosura da paisagem de sua face. Seus lábios eram litúrgicos.
Lírica sua fala e íntimo o seu cerrar de pálpebras. Encantante a sua alma e formoso o seu ruborizar. Sua maior ousadia, estando comigo, foi quando em silêncio conduziu minha mão para o calor do seu seio adolescente. Foi com palavras dormindo que versifiquei o nosso romance.
Desculpe-me amiga, mas, depois de Dante não sei como sublimar o teu nome.

sábado, 1 de março de 2008

Da série: Pequenos orgasmos

Pintura - Degas

* No delírio do vinho.
Meus olhos tão cheios de noite,
souberam-se ornatos do sol de teus cabelos.

*Esperando tua nudez, rezei meu rosário de pecados.