sexta-feira, 11 de abril de 2008

Fazer valsar as palavras


Ela acorda às 5h e 50 min, o trabalho exige isso, considera o despertador seu inimigo íntimo. Enquanto alguns pássaros com seus bicos de amanhecer ainda acordam um resto de noite em suas asas, ela dança suas pálpebras. Contempla-la enquanto dorme é tocar o longínquo do sonho, dedilhar os acordes do silêncio do sono. Um suave abrir de pálpebras anuncia o seu próprio amanhecer; letárgica recolhe-se novamente a si mesmo por cinco minutos, até despertar decisivamente. Eu sempre quis iniciar o seu dia com um poema, mais ela dorme tão bonito, que eu nunca alcançaria tal poesia. A eternidade parece residir em seus olhos de alvorecer. O amanhecer não desperta seu olhar, seu olhar acorda o amanhecer.
Sua paisagem desafia minha escrita mais poética, incita o convite elegante do verso, o traço apurado da letra. Sua paisagem ilumina a noite existente em meu colóquio silente. Sua voz suaviza minha escrita pujante, enternece meu espírito rebelde, acarinha meu doer de antes.
Sinto-me mais poeta ao contemplar com olhar absorto o arrebol de sua paisagem. Talvez seja necessário fazer valsar as palavras, para melhor elucidar o momento.
Seu silêncio é mais fecundo do que meus versos mais inspirados. O seu dia, de tão belo, por vezes me comove, como um sol de aquarela rascunhado na noite pelas mãos débeis de uma criança louca.

No fim da tarde ela se oferece para os lírios, eu para ela.

17 comentários:

Anônimo disse...

És poetas, e sabes disso.
Beijos

Unknown disse...

Você é um escritor de excepcional talento. Parabéns.

Unknown disse...

Mais uma das suas poéticas me encanta. Teus textos são repletos de frases lapidadas com carinho.

Anônimo disse...

Amigo poeta fazia um certo tempo que por aqui eu não passava porque o meu pc estava com problemas, mas confesso que estava saudoso de tuas palavras e sensibilidade. Muito me honra poder chamá-lo de amigo. Textos ótimos.

Anônimo disse...

As vezes tenho vonrade de rasgar o dia, e de surpresa acordar a noite e lhe tirar o sono...

Anônimo disse...

Mais texto magnifico. Acredito que você deve se orgulhar muito de possui tal dom. LIndo texto.
Abraços.

Dani disse...

tua poesia me faz leve.

beijos em verso. e vice-versa.

Anônimo disse...

Mais um belo texto, como os demais. Parabéns poeta.





Ass: Dona do verbo.

Silvestre Gavinha disse...

Que mulher não amaria dormir com um poeta a velar seu sono e a iluminar assim seu despertar????
Poeta poetinha.... delícia ter-te a nos fazer sonhar.
Um beijo
Marie

Unknown disse...

"Lipirius": Por mais forte que seja a personalidade da contemplada(e como é, heheheheheh),acho que ela não segurou as emoções ao ler este belo texto.

Abraços para os dois.

Anônimo disse...

Oi, querido!!!!! Lindo o texto!!!! Extremamente poético!!!! Andei meio sumida... Mas tô por aqui!!! Bjoks

Anônimo disse...

Mais uma delicia de texto. Poeta dos aromas, dos silêncios, da nudez, poeta da delicadeza. Depois de várias visitas como não comentar? (risos)
Abraços do Sul

Anônimo disse...

Querido Felipe, ele sabe como me desarmar, e tem forma mais bela que essa?


LELLIS

Unknown disse...

"Lipirius": Lellis, como dizia o florentino, amor e coração nobre são uma única coisa. Ele possui tais virtudes, e desarmará, ainda mais, teu prudente coração.

Abraços para os dois.

Anônimo disse...

Tô com saudade de vc!

Anônimo disse...

As poesias mais bonitas são aquelas que a gente não conseguiu fazer. O que é impossível de ser dito, por ser demasiado bonito, é poesia em silêncio e alimenta mais do que qualquer palavra já inventada.

Aqui me sinto empacotada num cobertor quentinho em dia frio. Que não os de lã, claro. Você não pinica! ;P

Juliana Vermelho Martins disse...

Lindo! Poucos homens conseguem ver tanta beleza no despertar de uma mulher. Que sorte da sua mulher a de ter olhos como os seus ao lado dela todas as manhãs.