terça-feira, 13 de maio de 2008


O amor nunca parte, texto já publicado neste espaço, também povoa a Palpitar revista de literatura e cultura, na seção criação. Quem quiser reler o texto e também conhecer a revista é só clicar: www.palpitar.com.br

Escritas Estações

Foto by Nardell


Quando escreveu a primavera Deus pensava em perfumar a sua solidão. Torná-la mais poética, povoada de aromas, inundada de sutilezas. A mais repleta das estações nasceu do ventre da solidão de Deus, as suas tintas ornam o poético que reside nas fragrâncias. As flores não possuem aromas, as flores vestem os aromas. Imaginem elegantemente vagando por ai, em noite ensolarada, um aroma vestido de orquídea. Delírio. Sou um colecionador de delírios.
Quando escreveu o inverno Deus pensava em se pensar melhor, e chorou. Encharcou o mundo, orvalhou a vida e fez nela brotar a poesia.
Quando escreveu o verão Deus quis dá um tom pomposo para o crepúsculo, hipnotizar olhos contemplativos, quis que olhos apaixonados tivessem a possibilidade de entardecer o amor desejado. Quis que poetas pudessem escrever frases como: Seus olhos de entardecer crepúscularam a minha noite. Meu amor cheirava a um lindo verão. Deus poemou tal estação e deu-lhe o calor do Seu acolher.
Quando escreveu o outono Deus quis que a poesia sempre renascesse, maravilhosa, quis o lirismo da delicadeza, o lirismo de árvore chorando. Quis fazer-Se poeta e Se fez.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Da série: pequenos orgasmos

Pintura - Rufino Tamayo

*São tantas vozes meu silêncio.

*Meus poemas possuem desejos de pássaros.

*Gosto de dar nome aos silêncios das coisas.

*Ensina-me a mendigar teus olhos, esse jardim.

*É-me tão próximo, tão dentro, o rumor de tua ausência.

* Tua ausência é meu nome.

sábado, 26 de abril de 2008

Matei um homem.

Pintura de Radaelli


Cometi um crime, assassinei um homem e sua sensibilidade e sua tristeza e sua solidão e seu desespero e sua infância e sua oração e seus orgasmos e seu vazio. Assassinei um homem e sua ternura e seu desespero e seu poema e sua fome e sua alegria e sua elegância e seu querer e seu sentir.
Cometi um crime, assassinei um homem e sua profundidade e seu silêncio e sua nudez e sua dança e seu medo e seu dia e sua noite e seu verbo e sua ebriedade.
Cometi um crime, assassinei um homem e o seu grito e seu inferno e sua paz e sua harmonia e seu mistério e sua glória e sua ardência e seu abandono e sua identidade. Assassinei um homem e suas paixões e sua insônia e seu acordar e seus sonhos e suas metáforas e suas aliterações e suas metonímias e sua linguagem.
Assassinei um homem e seu respirar e sua confissão de amor e seu se deixar e seu estar e seu partir e seu ficar. Mais uma vez confesso, assassinei um homem e sua escrita e sua fé e sua velhice e seu beijo e seu desejo e sua espera e seu amor.
Matei um homem, vocês precisam acreditar em mim.

sábado, 19 de abril de 2008

Confissão.

Pintura - Jean Basquiat


É impressionante como seus versos respiram. Como seus versos me ausentam. Depois de seus versos eu chego a partir, retirar-me, chego a ser lugar nenhum. Eles possuem batimentos cardíacos de ave em mãos de moleque travesso. É espantoso como seus versos existem; enchem as nossas mãos de mundo.
É impressionante como seus versos acolhem o próprio abandono. Como seus versos desnudam e inquietam os olhos que os percorrem, a alma que os busca sentir. Gosto dos aromas que possuem os seus versos porque vindos do cerne de sua loucura, porque repletos de sua essência.
É impressionante como seus versos, mesmo os mais lúcidos, me embriagam.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Fazer valsar as palavras


Ela acorda às 5h e 50 min, o trabalho exige isso, considera o despertador seu inimigo íntimo. Enquanto alguns pássaros com seus bicos de amanhecer ainda acordam um resto de noite em suas asas, ela dança suas pálpebras. Contempla-la enquanto dorme é tocar o longínquo do sonho, dedilhar os acordes do silêncio do sono. Um suave abrir de pálpebras anuncia o seu próprio amanhecer; letárgica recolhe-se novamente a si mesmo por cinco minutos, até despertar decisivamente. Eu sempre quis iniciar o seu dia com um poema, mais ela dorme tão bonito, que eu nunca alcançaria tal poesia. A eternidade parece residir em seus olhos de alvorecer. O amanhecer não desperta seu olhar, seu olhar acorda o amanhecer.
Sua paisagem desafia minha escrita mais poética, incita o convite elegante do verso, o traço apurado da letra. Sua paisagem ilumina a noite existente em meu colóquio silente. Sua voz suaviza minha escrita pujante, enternece meu espírito rebelde, acarinha meu doer de antes.
Sinto-me mais poeta ao contemplar com olhar absorto o arrebol de sua paisagem. Talvez seja necessário fazer valsar as palavras, para melhor elucidar o momento.
Seu silêncio é mais fecundo do que meus versos mais inspirados. O seu dia, de tão belo, por vezes me comove, como um sol de aquarela rascunhado na noite pelas mãos débeis de uma criança louca.

No fim da tarde ela se oferece para os lírios, eu para ela.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Da série: pequenos orgasmos

Pintura - Rufino Tamayo

Despedi-me de mim, em um dia que não sei bem se existi nele ou em mim ele existiu.
Despedi-me sem me saber quem, sem me saber quando, sem me saber eu.

Despedindo-me permaneço.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

No sexo a fome é quem sacia.

Pintura - Gustav Klimt

Quero teus seios nus em minhas mãos.
Teu gozo em meus lençóis.
Teu úmido desejo em meu deserto.
Tua boca em meu sedento.

Quero tua ardência queimando dentro.

Quero a homilia sussurrante dos corpos.
O ritmo obsceno dos quadris.

Quero tua pele, teu suor, teu cheiro, teus espasmos.
Quero tua língua em minha sede.

Quero minha carne tatuada de tuas mordidas.
Tuas deliciosas e dolorosas mordidas.

Oferto-te inteira a minha fome.

Por que eis de querer a minha fome?

Queres porque a minha fome te basta, porque a minha fome te sacia,
A minha fome te oferece extremos.
A minha fome te violenta, te oferece orgasmos.
A minha fome te oferece a delícia de prová-la.

Um gosto de sexo na boca.
Um gosto de boca no sexo.

A minha fome te farta.

No sexo a fome é quem sacia.

sábado, 5 de abril de 2008

Mesmo perto é preciso olhar longínquo.

Pintura - Salvador Dalí

Mesmo perto é preciso olhar longínquo para o amor, como se contempla um pôr-do-sol, uma fotografia de quando criança, uma fotografia de uma partida. É preciso olhar longínquo, mesmo para si, há mais palavras no poema que imaginamos ser, há mais ternura, mais loucura, mais arcano. É preciso olhar longínquo para nudez da mulher amada, há algo muito além do corpo, há algo muito além da febre, a nudez da mulher possui algo tão sagrado que a própria poesia ajoelha-se em oração para rezá-la.

O desejo é um origami da alma feito pelas mãos do louco que carregamos dentro, disse-me certa vez um hospício. É esse louco que melhor olha, que melhor sente, vive. É esse louco que nos faz transbordar sede, encorpar embriaguez, tocar o longínquo do amor. É esse louco de dentro que delineia a razão do amor. Mesmo perto é preciso olhar longínquo para as coisas tristes porque belas as olhando assim, porque passadas as olhando assim. Tudo é contentamento para olhos sedentos de paisagens. Tudo é tão dentro no amor, tão entranhado, arrebatado, que precisa-se fechar os olhos para enxergar. Precisa-se abreviar a razão, alargar o delírio.

Olhei a loucura nos olhos e senti mais existência. Nunca me senti tanto. Estavam belos seus olhos, talvez porque tristes ou tristes porque talvez. Estavam. Contemplei com vagar a sua graça e a quis minha. Mesmo perto é preciso olhar longínquo, para Deus, para a dor, para o amor, para o poema nunca escrito. É imprescindível olhar longínquo para quase tudo, menos para a loucura, para a loucura é preciso olhar perto, sentindo o cheiro, sentindo o hálito, a febre; sentindo-se ela. É preciso olhar...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

No amor todo silêncio é ouvido

Pintura - Thomas Gainsborough

O que mais me alucina é um olhar triste quando quer sorrir. Um sapato distante do seu par também me alucina. Como a companhia de uma solidão a dois. Maria é professora de português. Profere que gosta de minhas palavras, mas segundo ela, só escuta o silêncio de minhas frases. Diz que minhas palavras me calam, enquanto penso que elas expressam-me.

Um escritor se faz com os silêncios de suas palavras.
No amor alucino qualquer razão para que o declarar seja intenso. A palavra nuança o amor, nubla o amor. O amor insinua-se rubor na face, cerrar de pálpebras num último aceno, insinua-se despedida para ser logo acolhido. O amor deseja ser embalado pelos silêncios das cantigas de ninar. Quem nunca confessou o amor apenas com a ternura do olhar? Quem nunca cantou sua canção favorita sem um rumor se quer? Quem nunca leu um poema nos olhos da pessoa amada?

Palavra não quer dizer intimidade. A intimidade possui outras vestes, diferente do amor. O amor se veste com adequada nudez. No amor nem toda centelha é fogo. Seu rosto de noite é travessura. Ebriedade. Seu rosto de noite é solidão. Seus cílios se afeiçoam a tristeza, se afeiçoam a loucura. A loucura é sua melhor razão. Maria diz saber ouvir o dormir de minhas palavras. O rumor da palavra apenas assusta a ternura, continua.

Quanto às palavras, eu as cultuo como a um deus. As palavras vestem a ternura, dão-lhes trajes de festa. Em silêncio a linguagem ajoelha-se para melhor rezar a palavra pecado. No silêncio da palavra pecado é onde reside a sua santidade. No silêncio do amor é onde os amantes melhor se ouvem.

Maria chora em silêncio um amor que não teve. Minha poesia chora em palavras por um dia que não houve haver.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A chuva me ensinou a chorar.

Pintura - René Magritte.

Em dias de chuva a vida ganha nuances diferentes. Tudo fica mais poético e acolhedor, as paredes e as árvores vestem-se com matizes outras. Os livros ganham mais sabor, por causa do tempero do clima. Em dias de chuva minhas palavras mostram-se nuas e felizes, tristes e despudoradas, minhas palavras tornam-se ainda mais paradoxais, mais minhas. Torno-me mais íntimo de mim, converso com meus medos, ponho pra dormir as ausências, passo café a dois. Em dias de chuva sou mais companhia, me dou as mãos e saio num passeio íntimo. Em dias de chuva minha solidão sai para fluir, gosta de ser acarinhada pelas mãos do vento, de sentir as pálpebras da brisa. Delírio.
Passei a chorar em público em um dia de chuva, ou melhor, em uma noite de chuva. Por acreditar que ninguém me perceberia chorar. Passei a chorar em público quando a noite também chovia, quando a noite escorria por sobre minha face e olhos, umedecendo meu olhar translúcido. Meu olhar nunca anoiteceu tanto. A chuva é uma tristeza chorando. A chuva me ensinou a chorar.
Em dias de chuva serenam meus olhos sobre a nudez do tempo. Em dias de chuva meu olhar também chove, meu olhar me chove.
Chove minha alma comovida.

sábado, 29 de março de 2008

Da série: pequenos orgasmos

Pintura - Henri Matisse

*Mesmo erótico o poema, o poeta se repleta de Deus para criar.

*Cortejada minha alma, meus olhos, meu mendigar, meu riso pálido, à celebração de nenhum haver.

*Haver um eles, é uma coisa singular.

* Habitar uma palavra triste é coisa que faço com alegria.
O paradoxal me psicologia.

* São as palavras que silenciam o mundo.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Ofícina Literária

Didática da criação, acordar as palavras, acarinhar as palavras, vivificar a leitura, gramaticar erros e elucidar a experiência literária, foram propostas trabalhadas na minha oficina literária de poesia, realizada na Escola Professora Francisca Lira Leite de Brito com alunos da 6ª série.

Precisa-se acarinhar as palavras para logo depois fazer amor com elas.
Acordar a palavra e rir de sua cara de sono.


Durante a ofícina, descobri-me um erro gramaticado.



Poetas trabalhados durante a oficina: Manoel de Barros, Fabrício Carpinejar, Palmeira, Dedé Monteiro e Zeto.

Este participante levou tão a sério a idéia de acordar as palavras, que perguntou se podia “Gonzagar as palavras" (fazendo referência ao rei do baião). Foi aí que percebi que a oficina já surtia efeito. (risos)


Essa gatinha da foto, extremamente bem enquadrada com contorno amarelo, protagonizou o momento mais encantador da oficina. Quando gritei; - Pronto, agora vamos brincar com as palavras!
Ela puramente correu, pegou o dicionário que estava sobre minha perna, o jogou no chão e começou a chutá-lo.
Ela brincou com as palavras como Ronaldinho costuma brincar com a bola.


Fotos: Ser Iza
Ps: A autora dos gols com as palavras não participava diretamente da ofícina, estava acompanhando sua irmã. Imaginem se estivesse.

terça-feira, 25 de março de 2008

O amor nunca parte.

Pintura - John William Waterhouse
Um amor nunca parte. Ficam os cheiros, os hábitos, os livros repletos de suas pálpebras, a solidão acompanhada. Um amor nunca parte. Fica o delírio do corpo a espera das mãos, o delírio do copo sem espera nenhuma, fica a ausência da embriaguez que se queria sua. Um amor nunca parte, fica o seu perfume povoando todos os lugares, sendo todos os lugares, residindo na pele da alma, perfumando o tom da voz, dando cheiro ao corpo da ausência. O cheiro do amor é algo insuperável, onipresente, é algo insinuante. É uma existência tão dentro que não sabemos nossa.
Na memória poética, fica a doçura do olhar, a ternura das mãos, o choro mansinho, o sorriso brotado quando triste. Ficam na pele os atalhos que suas mãos construíram e que não mais levam ao prazer.
Um amor nunca morre, ele nasce em outro lugar da nossa alma. Um amor nunca parte inteiro porque nunca esteve pleno, foi sonho mesmo o real lhe acontecendo.
O amor e sua partida vieram do mesmo ventre. O amor existe do jeito que sonha; sua partida existe do jeito que doe.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Meus 100 livros essenciais. Livros que me edificaram

Pintura - Van Gogh


1 - Dom Quixote-Miguel Cervantes (1547-1616) Espanha
2 - Os Mais Belos Contos-Hans Christian Andersen (1805-1875) Dinamarca
3 - Orgulho e Preconceito-Jane Austen (1775-1817) Inglaterra
4 - Trilogia: Molloy, Malone está a morrer, O Inominável,-Samuel Beckett (1906-1989) Irlanda
5 - O Estrangeiro-Albert Camus (1913-1960) França
6 - A Divina Comédia-Dante Alighieri (1265-1321) Itália
7 - Grandes Esperanças-Charles Dickens (1812-1870) Inglaterra
8 - Crime e Castigo-Fyodor Dostoyevsky (1821-1881) Rússia
9 - O Idiota-Fyodor Dostoyevsky (1821-1881) Rússia
10 - O Som e a Fúria-William Faulkner (1897-1962) U.S.A
11 - Memórias de Adriano-Marguerite Yourcenar (1903-1987) Bélgica
12 - Mrs. Dalloway-Virginia Wolf (1882-1941) Inglaterra
13 - Folhas de Erva-Walt Whitman (1819-1892) U.S.A.
14 - Guerra e Paz-Leon Tolstoy (1828-1910) Rússia
15 - Vermelho e o Negro-Stendhal (1783-1842) França
16 - Hamlet-William Shakespeare (1564-1616) Inglaterra
17 - O Assassinato de Cristo- Wilhelm Reich (1897-1957) EUA
18 - O Livro do Desassossego-Fernando Pessoa (1888-1935) Portugal
19 - 1984-George Orwell (1903-1950) Inglaterra
20 - A Montanha Mágica-Thomas Mann (1875-1955) Alemanha
21 - Zorba, o Grego-Nikos Kazantzakis (1883-1957) Grécia
22 - O Som da Montanha-Yasunari Kawabata (1899-1972) Japão
23 - A Metamorfose-Franz Kafka (1883-1924) Rep. Checa
24 - Ulisses-James Joyce (1882-1941) Irlanda
25 - O Velho e o Mar-Ernest Hemingway (1899-1961) U.S.A.
26 - Almas Mortas-Nikolai Gogol (1809-1852) Rússia
27 - Madame Bovary-Gustave Flaubert (1821-1880) França
28 - Cem Anos de Solidão-Garcia Marquez (1928) Colômbia
29 - Amor em Tempos de Cólera-Garcia Marquez (1928) Colômbia
30 - Os Miseráveis-Victor Hugo (1805 – 1885) França
31 -O Retrato de Dorian Gray-Oscar Wilde (1854 – 1990) Irlanda
32 - Cândido-Voltaire (1694 – 1778) França
33 - Dom Casmurro-Machado de Assis ( 1839 – 1908) Brasil
34 - Memórias Póstumas de Brás Cubas-Machado de Assis
35 - Os Sertões-Euclides da Cunha (1866 – 1909) Brasil
36 - Lavoura Arcaica-Raduan Nassar (1935) Brasil
37 - Um Copo de Cólera-Raduan Nassar (1935) Brasil
38 - A paixão Segundo G.H.-Clarice Lispector ( 1920 – 1977)Brasil
39 - Perto do Coração Selvagem-Clarice Lispector ( 1920 – 1977) Brasil
40 – Uma Estação no Inferno-Arthur Rimbaud (1854 – 1891) França
41 - A Crucificação Encarnada "Sexus, Plexus, Nexus"-Henry Miller (1891-1980)
42 – Assim Falou Zaratustra-Friedrich Wilhelm Nietzsche ( 1844 – 1900) Alemanha
43 – O Anticristo-Friedrich Wilhelm Nietzsche ( 1844 – 1900)
44 - O Jogo da Amarelinha-Julio Cortázar (1914 – 1984)
45 - O Pequeno Principe-Antoine de Saint-Exupéry (1900 – 1944) França
46 – A Insustentável Leveza do Ser-Milan Kundera (1929) Tchecoslováquia
47 - Werther-Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) Alemanha
48 - Poemas Escolhidos - Ezra Pound ( 1885 1972) EUA
49 – Poemas-William Butler Yeats (1865 – 1939) Irlanda
50 – Demian-Herman Hesse (1877 – 1962) Alemanha
51 – O Amante-Marguerite Duras (1914 – 1996) França
52 – Olhos Azuis Cabelos Pretos-Marguerite Duras (1914 – 1996) França
53 – Cartas a Um Jovem Poeta-Rainer Maria Rilke (1875 – 1926) Suiça
54 - A Humanidade da Mulher-Lou Andreas-Salomé (1861- 1937) Rússia
55 – A Náusea-Jean Paul Sartre (1905 – 1980) França
56 – A vida modo de Usar-Georges Perec (1936 – 1982) França
57 – Nossa Senhora das Flores-Jean Genet (1910 – 1986) França
58 - O Apanhador no Campo de Centeio-J.D.Salinger (1919 – 1998) EUA
59 – O Principe-Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) Italia
60 – História da Loucura-Michel Foucault (1926 – 1984) França
61 – O Leorpado-Giuseppe tomasi di Lampedusa (1896 – 1957) Italia
62 – Eugenie Grandet-Honore de Balzac (1799 – 1850) França
63 – O Lobo da Estepe-Herman Hesse (1877 – 1962) Alemanha
64 – Os Mandarins-Simone de Beauvoir (1908 – 1986) França
65 – Fome de Amor-Anais Nin (1903 – 1977) França
66 – Morte e Vida Severina-João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999) Brasil
67 – Grande Sertão: Veredas-João Guimarães Rosa (1908 – 1967) Brasil
68 – Catatau-Paulo Leminski (1944 – 1989) Brasil
69 – A Obscena Senhora D- Hilda Hilst (1930 – 2004) Brasil
70 – Ópera dos Mortos-Autran Dourado (1926 - ) Brasil
71 – Invenção de Orfeu-Jorge de Lima (1893 – 1953) Brasil
72 – Poema Sujo-Ferreira Gular (1930 - ) Brasil
73 – Morangos Mofados-Caio Fernando Abreu (1948 – 1996) Brasil
74 – Mar Absoluto-Cecilia Meireles (1901 – 1964) Brasil
75 – Paulicéa Desvairada-Mário de Andrade (1893 – 1945) Brasil
76 - On the Road-Jack Kerorac (1922 – 1969) EUA
77 – Howl-Allen Ginssberg (1926 – 1997) EUA
78 – Almoço Nu- William Burroughs (1914 – 1997) EUA
79 - O Nome da Rosa-Umberto Eco (1932 - ) Italia
80 – Quatro Quartetos-T.S.Eliot (1888 – 1965) Inglaterra / EUA
81 – O Sofredor do Ver-Maura Lopes Cançado ( 1967 – 1993) Brasil
82 – Sísifo-Marcus Accioly (1943 - ) Brasil
83 – As Bodas do Poeta-Antonio Skármeta (1940 - ) Chile
84 – Ensaio Sobre a Lúcidez-José Saramago (1922 - ) Portugal
85 – Objecto Quase-José Saramago (1922 - ) Portugal
86 – Aléxis ou O tratado do Vão Combate-Marguerite Yourcenar (1903-1987) Bélgica
87 – A Cinza das Horas-Manuel Bandeira (1886 – 1968) Brasil
88 – De Poetas e de Poesia-Manuel Bandeira (1886 – 1968) Brasil
89 – Livro sobre Nada-Manoel de Barros (1916 - ) Brasil
90 – As Flores do Mal-Charles Baudelaire (1821 – 1867) França
91 – O Retorno e Terno-Rubem Alves (1933 - ) Brasil
92 - À Sombra das Raparigas em Flor-Marcel Proust (1871 – 1922) França
93 – Poemas-E.E Cummigs (1894-1962)
94 – Elogio da Loucura - Erasmo de Roterdan ( 1466 - 1536)
95 – Antologia Poética-Federico García Lorca (1898 – 1936) Espanha
96 – O Profeta-Khalil Gibran (1883 – 1931) Libano
97 – Diários-Silvia Plath (1932 – 1963) EUA
98 – A Teus Pés-Ana Cristina Cesar (1952 1983) Brasil
99 – Mitologia do Kaos-Jorge Mautner (1941 - _)
100 – Casa Grande & Senzala-Gilberto Freire (1900 – 1987) Brasil

quinta-feira, 20 de março de 2008

Da série: Pequenos orgasmos

Pintura - Salvador Dali


* Chorei em tantas paisagens
que sempre é inverno a estação
de minha alma.


* A minha loucura quando chove
umedece a razão de sede.

* Há muito ser na solidão da loucura.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A minha morte se morreu.

Pintura - Pablo Picasso

A minha morte cometeu suicídio em plena primavera. Achou-a a mais bela das estações. Desejava partir com cheiro de vida e jasmim.
A minha morte “se morreu”.
Quando o clima estava propicio para o amor, a minha morte se matou. Quando os meus olhos pediam que viesse, ela resolveu partir. Não sei com qual roupa, não sei se a paisagem era propicia para tal encantamento. Não sei se ela me amava, se me queria perto, se meus lábios eram por ela desejados. Minha morte não deixou bilhete, testamento, nem romance escrito. A minha morte madrugou meu olhar. A minha morte não suportou o seu amor pela vida. Avistei minha morte pela primeira vez em uma mesa de bar. Ela tomava vinho tinto, tinha unhas escarlates, lábios rubros, cigarro entre os dedos e falava silente. Havia um outro copo sobre a mesa e um poema encharcado de vinho. Havia espera.
A minha morte me aguardava enquanto eu delirava para vida.
Queria saber sua idade. De quantas vidas havia provado. Por quantas vidas se apaixonou. Quantos amores a acometeram, quantos poemas lhe prestaram tributo. A minha morte me deixou um vazio absurdo. Com isso, pude compreender que ela também me era.
Ainda há companhia.
A minha morte me avizinha, mesmo, depois de ida.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Embebido de verbo

Pintura - Jean Basquiat


Hoje existi como quem habita um poema do Rimbaud. Encharcado de vinho e liberdade. Embebido de verbo. Sua poesia entardeceu meus olhos. Sua poesia tingiu de crepúsculo o meu olhar. Nomeio meus poemas para fingir intimidade. O que escrevo é o que me escapa, o que me transborda, o que me inunda. Meu desconhecido me envaidece, me faz poeta.
Hoje acordei com cheiro de palavras nas mãos. Com a alma tatuada de verbo, com a elegância do silêncio da voz.
Hoje algum poema me residiu.

Agora, deixou-me para o sono das palavras.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Para ter a alegria de dizer que não sou normal. E que escrever é a loucura de gramaticar erros.

Pintura - Oswaldo Guayasamín


Eu me falou que se entrega inteiro para a vida, por causa das mortes que teve. Diz que sua intensidade nasceu delas. Eu me confessa que tem medo de ficar só. E que minha companhia é solidão.
Particularmente amo suas mortes. Há vida demais nelas. Espero que suas mãos me conduzam. Espero que Eu me leve para qualquer existir. Eu se diz repleto de mim.
Queria receber teus olhos. Queria provar teu me ser.
Eu me diz que não tem olhos, e seu mim é navalha cortando a carne do verbo.
O meu dia é este hoje. O que tu me sou. O meu dia é esta noite impune e desmemoriada a tanto. O meu ser é este eu delirante. O meu dia é este ontem dando mais eu a este sou. Aconteço em consonância com a tempestade de mim. Tempesteio. Eu me inunda de si. Eu me transborda. Eu me sussurra.
Assustadiço Eu contempla minha ebriedade. É vida pulsando dentro de mim este Eu. Rezo minha loucura. Santifico-a com a enfermidade do verbo. As palavras me vestem e me desnudam.

Não tenho alma. Uma alma me tem.
Mendigo um me ser.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Poemeio

Pintura - Oswaldo Guayasamín


Em sua solidão o poeta chora o que não é chorado.
Em sua solidão, o poeta cria outras solidões
e passa a brincar com elas.

Em sua solidão, o poeta poema o que é silêncio.

Em sua brincadeira de verbalizar silêncios,
o poeta jardina o deserto de si.

Deserta de si qualquer lugar.

terça-feira, 4 de março de 2008

Crítica sobre o meu terceiro livro; Prece ao Pecado - Romance

Modelo da capa: Lellis Vasconcelos - Foto: J. Nogueira
Prece ao Pecado, terceiro livro do escritor e poeta Alessandro Palmeira, logo no título nos induz à reflexão e ao complexo que permeia toda a obra. O livro traz em si não só uma história envolvente, mas traços da complexa personalidade do autor e os devaneios a ela inerentes. O romance recende a sexo, poesia, prece e pecado.
O poético transborda de cada frase, o que é peculiar ao escritor de “Deus no Hospício,” que sabe sugar o néctar do poético e com ele embriagar a alma do leitor, tantas vezes sedenta de ebriedade.O romance revela, com profunda densidade psicológica, a fragilidade, os medos, os desejos e a “ternura de passarinho dormindo” que habitam a alma feminina das mulheres que são todas Helenas, e das Helenas que são todas as mulheres. Conseqüentemente as nossas melhores preces, os nossos melhores pecados. Com dulcíssima ternura, escreve o escritor: “Por ti abandonei as palavras. Tentei verbalizar o silêncio”. e “ O que há de grito em mim, me silencia.”


Manoel Teixeira de Lins
Psicólogo e Escritor

domingo, 2 de março de 2008

Da série: Longínquos Amores – Beatriz

Pintura - Jean Delville
Suas mãos eram elegantes. Pareciam reger uma orquestra imaginária. Seus olhos pareciam desfilar na passarela de meus delineamentos, quão atentos e altivos eles me fitavam. Seus olhos negros se misturavam a noite. Estando com ela, mesmo de dia, eu tinha a companhia da noite de seus olhos. Da noite que eram seus olhos. Seus cílios eram tristes, o que tornava o seu ocaso mais poético. Sua pele era delicada, convidativa para um passear de mãos tenras e dedos estarrecidos. Seus cabelos emolduravam com fineza a formosura da paisagem de sua face. Seus lábios eram litúrgicos.
Lírica sua fala e íntimo o seu cerrar de pálpebras. Encantante a sua alma e formoso o seu ruborizar. Sua maior ousadia, estando comigo, foi quando em silêncio conduziu minha mão para o calor do seu seio adolescente. Foi com palavras dormindo que versifiquei o nosso romance.
Desculpe-me amiga, mas, depois de Dante não sei como sublimar o teu nome.

sábado, 1 de março de 2008

Da série: Pequenos orgasmos

Pintura - Degas

* No delírio do vinho.
Meus olhos tão cheios de noite,
souberam-se ornatos do sol de teus cabelos.

*Esperando tua nudez, rezei meu rosário de pecados.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Povoada Solidão

Pintura - Van Gogh
Solidões que fazem-me companhia. Solidões imprescindíveis, que me acompanham e nunca me deixam só. Solidão do último gole de vinho. Do último palito de fósforo. Do olhar que se despede. Da rosa nunca entregue. De Deus no sétimo dia. Solidão de estrela sem noite. De poeta a soletrar silêncios. De pálpebras cansadas. Do cheiro do dia. Solidão de pôr-do-sol sem olhar que o contemple. De ilha que enxerga sua naufraga visita. Do velho a beira da eternidade. De quarto sem hospede. Solidão de suicida. Do pedido de socorro. Do derradeiro suspiro. Solidão de razão em hospício. De mulher no banho. Da orelha de Van Gogh. De poema esquecido. Solidão de puta em cabaré nenhum. De música na pauta. De homem chorando. Do silêncio do verbo. Solidão de batuta sem mãos. De pele sem língua. De ardência sem lábios. De tesão sem sexo. De palavra dormindo. De Palmeira sem Lellis. Solidão da noite sem dia. Do amor a espera. Da paixão sozinha. Solidão de olhar a procura. Do vazio do cálice. Do ávido desejo. Solidão de tudo em nada existindo. Solidão de neto sem avó, sem mãe e avô. Solidão de mim.

Gosto do cheiro da solidão, do gosto da solidão. Da solidão das palavras. Solidão de Deus sem Pai, Filho e Espírito Santo. Da solidão esquecida que não consta no texto.

Solidões me povoam.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Algo mais que o poético

Pintura - Fernando Barbosa


Uma mulher
é algo mais que suas curvas.
É algo mais que seus perfumes
É algo mais que suas vestes.

Uma mulher
é algo mais que um romance
É algo mais que sua nudez
É algo mais que um poema.

Uma mulher
é algo mais que sua palavra.
É algo mais que seu silêncio.
É algo mais que um poeta.

Em uma mulher o que amanhece é à noite.
Em uma mulher o que anoitece é o amor.
Em uma mulher o que acontece é o amor.

Uma mulher é muito mais que uma loucura.

Uma mulher
é algo mais que sua alquimia.
É algo mais que uma eternidade.
É algo mais que uma oração.

Uma mulher
é algo mais que sua história de amor.
É algo mais que seu abandono.
É algo mais que sua dor.

Uma mulher
é algo mais que seu desejo
É algo mais que um sonho.
É algo mais que sua insônia.

Toda mulher é naufraga em seu amor.
Toda mulher é perto mesmo quando ausência.
Toda mulher é nudez mesmo quando vestida.
Toda mulher é muito mais que sua genealogia.

Uma mulher
é algo mais que os homens que a desejam
que a esquecem
que a choram.

Uma mulher é algo mais que sua solidão.

Toda mulher é palavra mesmo em silêncio.
Toda mulher é silêncio mesmo quando palavra.

Uma mulher é algo mais que seu amor.

Uma mulher, uma única mulher, é quem poema a minha vida.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cubículo 69


Pintura - Picasso

Morto, abandonado, jogado maltrapilho no quadrado do seu mundo.
Morto, com sonhos enfermos amontoados sobre seu leito, impedido-lhe de deitar sua eternidade.
Morto. Com o nome escrito no mármore frio, orvalhado pela brisa da noite a única que não o esqueceu.
Morto, agora sem sonhos, sem lágrimas, sem oração, mas, existindo orgulhoso no esquecimento do seu deus.
No esquecimento de Deus.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Solidão de orquídeas

Pintura - Van gogh
Conheci uma mulher de olhos tristes, seios castos e suntuosa boca. Conheci uma mulher coroada de orquídeas. Uma mulher com cheiro de jardim e de olhos serenados. Com pele cândida e epíteto poético. Conheci uma mulher de palavras rubras e riso trágico. Ébria do vinho de sua solidão. Bela sua dança, sua nudez ainda vontade. Belas as covinhas brotadas em sua face quando riso. Belo o modo como abraça o olhar com os cílios cansados. Bela como uma sinfonia de rouxinóis.
Conheci uma mulher triste como um sereno. Mesmo sendo ela toda a chuva. Triste como o mendigar de uma criança vestida de noite para o luto, após haver perdido sua mãe para a fome. Conheci uma mulher bela como um poema em silêncio. Bela como a ternura de um beijo de mãe no filho quando dorme suas travessuras.
Conheci uma mulher triste, que nunca se despediu do amor, mesmo tendo ele partido. Conheci a solidão de uma mulher coroada de orquídeas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Da série: Pequenos Orgasmos

Pintura - Pablo Picasso


* Visitei o paraíso ao pecar teu corpo.
* Aderi ao pecado ao sussurrar teu êxtase.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Entrevista


Entrevista concedida para alunos da 6ª séria da Escola Monteiro Lobato. Afogados da Ingazeira



Por que você escolheu essa profissão?
Eu não escolhi, ela me escolheu. A minha escrita nasceu de uma ausência, quando a minha mãe encantou-se (quero dizer faleceu) cinco dias depois escrevi o meu primeiro poema. Um poema trágico, brotado da dor. O meu ofício de escritor é a minha vida, é o que há de Deus em mim. Será que Deus costuma doer?

Faz quanto tempo que você exerce tal profissão?
Tenho um caso de amor com a literatura desde a infância, quando o livro: “O pequeno príncipe” não me saia das mãos. As suas imagens poéticas me deixavam absorto. Mas, como falei anteriormente a escrita veio com o falecimento de minha mãe. O despertar da minha escrita veio com o seu cerrar de pálpebras.

O que você sente quando está escrevendo?
Um sentimento de liberdade, de gratidão, de amor. Com meus personagens dou corpo ao que em mim é incorpóreo, visto minha alma com o bordado das palavras, também a dispo da própria nudez. Meus personagens embalam meus sonhos e põe pra dormir meu medo.
O que seus livros retratam?
O primeiro Amor, Abstrata Loucura é um livro de poemas. Poemas com cheiro de infância apesar do que há de profundo em alguns deles. Batizei esse meu primeiro livro como meu pecado de juventude, não o lançaria hoje em dia, o acho muito imaturo. São poemas que ainda molham as fraudas. (risos). O segundo O Diário de Mória é o meu xodó, pois enquanto estava a escrevê-lo conheci um pouco mais sobre mim, sobre Deus, sobre a loucura que habita o cerne humano. Tive como matéria-prima a loucura, conversei com “loucos” e me descobri um. E o meu último livro lançado se chama Prece ao Pecado, um romance que desnuda nossos desejos.

Qual seu maior sonho?
Tenho vários sonhos o que é peculiar a todo ser humano. Não dá para definir qual é o maior, tenho sonhos adultos e sonhos meninos, sonhos ainda criança, sonhos ainda aprendendo a falar o próprio nome.

As crianças têm acesso as suas histórias?
Já me surpreendi diversas vezes com crianças falando trechos dos meus livros, dizendo que leram ou que os pais leram e comentaram. Apenas não recomendo o terceiro, pois o mesmo tem trechos inadequados para crianças e adolescentes. Tenho um livro em processo de gestação para crianças, talvez para o ano seja lançado.

Que livro seu fez mais sucesso?
O Diário de Mória. Consegui vender todos os exemplares em apenas 3 meses.

Você tem algum ídolo escritor que se inspira nele?
Não busco inspiração nos escritores, apesar de ter uma multidão deles que admiro. Busco inspiração na natureza das coisas e dos seres. Nos gestos inocentes das crianças, no olhar da noite que cai sobre nós, na loucura humana nossa maior razão, nos aromas que nos embriagam, no silêncio que arranha a pele do verbo. E em tantas outras coisas que as palavras buscam vestir. Aproveitando o ensejo quero aproveitar para parabenizar a professora e a Escola Monteiro Lobato pelo incentivo e orgulho que tal atividade nos oferece.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ser-tão-bardo

O sertanejo é repleto de paisagens.
Um ser apinhado de infância.
De seca e caatinga.
De labuta e sotaque.

È um reverberar de silêncios.
Um encorpar de verde mata
com resquícios de seca.

O sertanejo é um bardo de mãos calejadas.
Um ser que assobia o silêncio
E tem como vestes a madrugada.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Da série: Longínquos Amores – Uma Pequena Ode.

Pintura - Manet
Melina era soberba. Uma frase silenciosa de um romance, que se faz mais ouvida que todo o livro. Vestida de linguagem ela oferecia-se poema para mim. Sempre oferecendo-me a sua intimidade de uma forma dolorosa, chegando a doer. Daí descobri-me masoquista. Seu olhar era enigmático, uma mistura de paisagem e olhos fechados. Uma mulher repleta de deslumbramentos.
Seus olhos, egípcios. Suas vestes, épicas.
Vestira-se de tristeza diversas vezes e ficava elegante em tal traje. Nem o preto aderia tão bem a seus delineamentos quanto a tristeza. Seus cabelos eram chuva; derramados por sobre os ombros. Seus orgasmos pareciam intermináveis. Sua tristeza me fez insone em noites regadas a vermute e Bach.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Um último gole de sede - Diálogo com o poeta Fabrício Carpinejar no MSN


Alessandro Palmeira diz:
Brincando com a madrugada?
Fabrício Carpinejar diz:
ela brinca mais comigo
Fabrício Carpinejar diz:
de vez em quando estou dormindo
Fabrício Carpinejar diz:
e ela permanece acordada
Fabrício Carpinejar diz:
abraços
Alessandro Palmeira diz:
A comunidade no orkut sobre vc, cresce diariamente.
Fabrício Carpinejar diz:
que isso
Fabrício Carpinejar diz:
eu lamento não estar lá para ver
Alessandro Palmeira diz:
rss
Fabrício Carpinejar diz:
aprenderia muito
Alessandro Palmeira diz:
Passa lá depois
Fabrício Carpinejar diz:
eu nçao tenho senha nem nada
Fabrício Carpinejar diz:
página ou visto
Fabrício Carpinejar diz:
sou clandestino
Alessandro Palmeira diz:
então, não tens orkut
Fabrício Carpinejar diz:
não
Fabrício Carpinejar diz:
incrível, né
Alessandro Palmeira diz:
nada
Alessandro Palmeira diz:
agente perde um tempo danado
Alessandro Palmeira diz:
mais tbm ganha um tempo danado
Fabrício Carpinejar diz:
risos
Fabrício Carpinejar diz:
eu pensei: não dou conta do e-mail
Fabrício Carpinejar diz:
imagina com orkut
Fabrício Carpinejar diz:
risos
Alessandro Palmeira diz:
entendo
Alessandro Palmeira diz:
verdade
Fabrício Carpinejar diz:
poeta nasceu para perder tempo
Fabrício Carpinejar diz:
tempo a fundo perdido
Alessandro Palmeira diz:
e pro tempo ganhar poema
Alessandro Palmeira diz:
a eternidade só existe no tempo por causa do poeta
Alessandro Palmeira diz:
rss
Fabrício Carpinejar diz:
verdade
Fabrício Carpinejar diz:
vou lá, meu irmão
Fabrício Carpinejar diz:
dormir
Fabrício Carpinejar diz:
estou em campo grande
Fabrício Carpinejar diz:
solidão de hotel]
Alessandro Palmeira diz:
abraços
Fabrício Carpinejar diz:
estou conduzindo oficina de criação poética
Fabrício Carpinejar diz:
termina sábado
Fabrício Carpinejar diz:
tempestade tropical
Fabrício Carpinejar diz:
guarda-chuva destreinado
Alessandro Palmeira diz:
um dia pago tua passagem para vc conhecer Afogados da Ingazeira
Fabrício Carpinejar diz:
o sol é nuvem aqui
Fabrício Carpinejar diz:
onde isso?
Alessandro Palmeira diz:
e em Pernambuco quando farás oficina?
Fabrício Carpinejar diz:
PE
Alessandro Palmeira diz:
isso
Fabrício Carpinejar diz:
lindo o nome
Fabrício Carpinejar diz:
Afogados da Ingazeira
Alessandro Palmeira diz:
a minha cidade fica próxima a Sertânia terra de Marcelino Freire
Alessandro Palmeira diz:
ele conhece bem
Alessandro Palmeira diz:
sim, muito bonito, poético pacas
Fabrício Carpinejar diz:
quero conhecer
Fabrício Carpinejar diz:
nunca pintou oficina em pernambuco
Fabrício Carpinejar diz:
Se pintar, eu vou, com certeza
Fabrício Carpinejar diz:
antes que a cidade me habite
Alessandro Palmeira diz:
tentaremos te trazer
Fabrício Carpinejar diz:
a cidade de nome mais bonito é do rs
Fabrício Carpinejar diz:
sem bairrismo
Alessandro Palmeira diz:
agora não roube a cidade de mim
Alessandro Palmeira diz:
diz o nome da cidade?
Fabrício Carpinejar diz:
são josé dos ausentes
Alessandro Palmeira diz:
verdade
Fabrício Carpinejar diz:
a mais fria
Alessandro Palmeira diz:
tem presença demais essa cidade
Fabrício Carpinejar diz:
risos
Alessandro Palmeira diz:
lindo nome
Fabrício Carpinejar diz:
nascer já acostumado com a ausência
Fabrício Carpinejar diz:
isso deve ser interessante
Fabrício Carpinejar diz:
lindo, né?
Alessandro Palmeira diz:
ou na companhia dela
Alessandro Palmeira diz:
demais
Fabrício Carpinejar diz:
risos
Fabrício Carpinejar diz:
bom
Alessandro Palmeira diz:
Fabro
Fabrício Carpinejar diz:
tô um cara da madrugada mesmo
Fabrício Carpinejar diz:
inspirado
Fabrício Carpinejar diz:
eu já estou no último gole do rum
Fabrício Carpinejar diz:
no sangue
Alessandro Palmeira diz:
o meu vinho já acabou
Fabrício Carpinejar diz:
a garrafa verde do vinho
Alessandro Palmeira diz:
mais acabei me embriagando com a poesia de nossas cidades
Fabrício Carpinejar diz:
esconde o nosso fim
Fabrício Carpinejar diz:
é a mais honesta que conheço
Alessandro Palmeira diz:
rs
Fabrício Carpinejar diz:
a da cachaça
Fabrício Carpinejar diz:
é ambiciosa
Alessandro Palmeira diz:
ousada
Fabrício Carpinejar diz:
mostra até o que estamos por beber
Alessandro Palmeira diz:
logo tira as vestes
Fabrício Carpinejar diz:
não, ela já vem nua
Alessandro Palmeira diz:
despe-se até da própria nudez
Fabrício Carpinejar diz:
a da cerveja é impaciente
Fabrício Carpinejar diz:
ela não existe sozinha
Fabrício Carpinejar diz:
sempre está companhada
Fabrício Carpinejar diz:
de outras garrafas
Alessandro Palmeira diz:
rsssss
Fabrício Carpinejar diz:
é a mais triste de todas,
Fabrício Carpinejar diz:
vira casco
Alessandro Palmeira diz:
e mesmo acompanhada fica só
Fabrício Carpinejar diz:
sim
Fabrício Carpinejar diz:
a do uísque
Fabrício Carpinejar diz:
é feita de fumaça
Fabrício Carpinejar diz:
fogo envidraçado
Fabrício Carpinejar diz:
não bebemos, queimamos
Fabrício Carpinejar diz:
lentamente
Fabrício Carpinejar diz:
é a cozinha das garrafas
Fabrício Carpinejar diz:
o forno a lenha das garrafas
Fabrício Carpinejar diz:
vou ir, pois a conversa está me dando uma sede danada
Alessandro Palmeira diz:
rapaz vc está bem entendido de embriaguez
Fabrício Carpinejar diz:
risos
Alessandro Palmeira diz:
toma a sede ora
Fabrício Carpinejar diz:
eu sou bebido com muita facilidade
Fabrício Carpinejar diz:
pelas palavras
Fabrício Carpinejar diz:
abraços e inté
Alessandro Palmeira diz:
te estimo muito
Fabrício Carpinejar diz:
obrigado pelo drinque
Fabrício Carpinejar diz:
Fabro
Fabrício Carpinejar diz:
também
Alessandro Palmeira diz:
obrigado pelas palavras com ressaca
Alessandro Palmeira diz:
até
Fabrício Carpinejar diz:
sempre há uma enxaqueca para lembrar delas
Fabrício Carpinejar diz:
risos
Alessandro Palmeira diz:
risos

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Da série: Todas as Cartas - Aroma de Palavras

Pintura-Jean Basquiat

Hoje o dia amanheceu com cheiro de jasmim e tristeza. Com isso, resolvi te escrever. Por saber que mesmo alegre você ainda é triste dentro, é triste fundo. Não que não seja bom ser triste, não que a tristeza não tenha sabor, mas doe demais. Eu como você sinto uma vontade de chorar sem saber bem o porquê, sem saber por que se chora assim, tão sozinho, sem se saber. Eu como você, amo a poesia da vida, mais nem mesmo ela tem me bastado.

Carrego nas mãos uma criança perdida, que chora por ter sede de Deus. Amiga, nem mesmo Deus tem me saciado. Sinto medo. O próprio amor me assusta. Diariamente vivifico minha morte, e gosto de ter tal consciência. A possibilidade de suicídio me apraz ao mesmo tempo em que nenhum suicídio me delicia. Sim, sou extremamente contraditório, mas quem não o é? Acalenta-me saber que ainda existo aromas de palavras.
Hoje o dia amanheceu com cheiro de jardim e tristeza; e eu lembrei de você.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Testamento

Pintura Van Gogh
Para meus amigos deixo meus sapatos, minhas roupas, deixo os meus lençóis maculados de meus êxtases, meu perdão por amá-los. Deixo os meus segredos guardados há muito nas flores de um jardim que não houve. Deixo a lembrança do meu riso e minha tristeza obscena. Deixo o inaudito das músicas que me fizeram doer. Deixo os silêncios das músicas que compus, e sozinho cantei. Para meus amigos deixo minha loucura.
Deixo todos os presentes de aniversário que não recebi para as crianças que virão. Deixo para o mundo meus rascunhos. Deixo para Deus meu prazer de nunca tê-Lo conhecido. Também deixo-Lhe minha embriaguez e as primaveras que nunca contemplei.
Deixo meus aromas e meus sabores no pomar do passado. Deixo meus anéis como testemunho de que também fui material, mesmo pensando-os metafisicamente. Deixo a infância de minha alma. Deixo-me puerícia.
Deixo minhas borboletas, minha gilete, meu suicídio. Deixo as flores que roubei, meu paradoxo, meus textos rasgados, meus textos beijados, meus textos esquecidos. Deixo as cartas da Mari, os quadros do Nettzo e do Diel, e o conhecimento de mim que possui o Thiago C. Deixo vivo o meu algoz e suas palavras repletas do meu estilo, pois, lembrarão de mim ao vê-lo no hospício que criamos. Deixo o Márcio e o Amâncio como testemunho da intensidade com que provei a vida. Deixo para Sara e Bel alguns poemas repletos de suas respectivas alegrias, mas, que ainda são desconhecidos à ambas. Deixo toda essa fonte para o meu amigo-irmão Júnior Veras e a autorização da biografia que ele diz querer escrever, para que eu fique, mesmo quando aqui não mais estiver.
Deixo meus poemas nunca escritos para Lellis e os escritos também. Deixo meus livros e seus aromas empoeirados, e suas palavras nas quais tanto os meus olhos caminharam. Deixo meu lirismo para acolhê-la do frio e pôr pra dormir a saudade. Deixo pra ela meus olhos de entardecer, minhas tintas de entardecer, meus delírios de entardecer a manhã, minha vontade de anoitecer apenas para seu descanso. Também deixo aquelas ilusõezinhas que guardamos por baixo do travesseiro de nossos sonhos. Deixo meus ressuscitar.
Deixo o cerrar de minhas pálpebras como último gesto de amor, e meu silêncio como palavra, para ser sempre ecoada em seus ouvidos dispersos, em seus ouvidos atentos, seus ouvidos meus. Deixo meu amor sem sobra ou desperdício. Deixo meu amor inteiro, para ela.

PS: Não deixarei minhas mortes, essas não, essas eu as levo comigo.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Oração para os seios de Sofia

Pintura - Pierre-Auguste Renoir

Naquela manhã não precisava existir ternura, paixão, ou até mesmo ardência. Não precisava existir Deus. Naquela manhã não precisava existir pássaros, sóis, ou qualquer canto. Sombra. Seus seios eram a própria manhã. Seus seios amanheciam mesmo sem terem sido noite. Seus seios me comovem. Nada mais me é sublime depois dos seios de Sofia. Depois de seus seios passei a ser mais poeta. Tamanha a ternura dos seus seios que quase desisti de escrever. Como sublimar algo depois dos seus seios? Como chorar depois de descansar seus seios? Como não escrever depois dos seus seios? Como não chorar seus seios? Seus seios sugerem palavras, aromas, e inquieta as mãos. Efervesce o corpo e abranda alma. Seus seios são Deus existindo com veemência. Seus seios são pornográficos. Seus seios são santos. São sabor. Seus seios pecam e oram. Seus seios são preces. Seus seios silenciam o amor e convidam ao descanso. Seus seios diminuíram o poético das coisas para mim. Depois dos seus seios, morrer é apenas detalhe. Minha última lembrança será dos seus seios. Por mais bocas, mãos e olhares que existissem neles, seus seios eram solidão. Seus seios mataram o meu medo da morte.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Não quero viver por viver

Pintura Jean Basquiat

Esse texto foi escrito há um ano. Há uma confissão nele que eu gostaria que ficasse.

Não quero viver por viver. Não quero a farsa da vida. Quero o sabor da vida, mesmo que seja ou esteja ele amargo. Quero a solidão de uma estrela como minha. Quero minha solidão povoada do que sou, mesmo sendo multidão. Não quero viver por viver. Quero o corte, a cicatriz, o perfume, a textura da pétala, a dor que causa o espinho. Quero minha tristeza intocada quando plena, quando me fizer chorar mansinho ou gritado. Gritado como esses silêncios que se insinuam ouvidos, gritado como uma confissão de amor ao pé do ouvido. Gritado como pretendo existir. Mansinho como dorme uma criança. Não quero viver por viver. Quero a palavra. Sendo navalha ou carinho, quero a palavra. Quero a palavra sendo amiga, prece ou pecado. Não quero viver por viver. Quero ser poema. Quero que todo sentir seja intenso, alegre ou doendo, canônico ou pecador. Quero um sentir intenso para o amor. Não quero viver por viver. Quero cheirar os cachinhos de minha avó, pedir a sua benção, fitar seu olhar que é doce, beijar a sua testa e vê-la dormir. Quero dizer que a amo. Não quero viver por viver. Quero o simples, o complexo, a alegria, a tristeza, as sensações, os vazios, o transbordar, o vinho, o abandono do copo, o abandono do corpo, a nudez, as vestes esfarrapadas, as vestes lindas, o mendigar, a fartura. Quero o acordar, o recolher de pálpebras, o cheiro dos lençóis, a cama bagunçada, o amor a espera, o êxtase do sexo, o orgasmo da vida. Não quero viver por viver, mas, não desejo um morrer em vida. Quero um morrer repleto de tanta vida.
- Amigo, de que morreu o poeta?
- De tanta vida, amigo, de tanta vida.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ela

Pintura Jacqueline - Pablo Picasso


Ela me desnorteia os sentidos quando de um jeito meigo me oferece a mão e faz de mim mais caminho do que passos, mais pássaro que homem. Quando faz de mim sua morada e sua estadia. Ela me encanta quando franze a testa do modo mais lindo que já vi. Quando o sono lhe cerca e suas pálpebras acenam adeus como quem num sorriso se despede. Ela me desnorteia quando se despe, quando a inocência é o que lhe veste. Quando me abençoa com a nudez. Quando sorrir em desabrochar. Ela me arrebata quando o olhar é avassalador, ou quando nem bem ainda é olhar. Desde que a conheci nunca mais houve rotina estando com ela. Ela acorda o cotidiano invariavelmente, não o deixa repetir suas cores, seu cheiro, seu gosto. Ela não se repete. Eu não me repito estando com ela. Eu não me repito estando nela.
Ela me comove quando chora mansinho, quando o amor lhe assusta, quando a paixão é sozinha. Ela me comove quando uma lágrima inunda seus cílios e o jardim dos seus olhos. Ela me comove quando com medo se despe para o amor. Quando poética pega de mansinho minha mão e a conduz para o calor do seu seio. Ela me comove quando recita um silêncio.
Ela me anoitece quando sou tarde. Quando minha manhã se mostra triste, ela me anoitece. Quando a luz do dia ofusca meus olhos ela me anoitece. Quando a noite se insinua melancólica ela me abraça. Ela me afoga em seu sussurro. Quando tenho medo ela me anoitece. Quando a nudez pede vestes, ela me anoitece.
Quando ela anoitece faz de mim seu sono.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Longínquo



Não sei se choro ou recolho as pálpebras em silêncio. Sem alarde ou aceno de sobrancelha. Sem tristeza.
Cuida bem dos teus olhos menina, não deixa outras paisagens fazer pesar os cílios. Não permita outros cansaços para a sede. Deixa a água ser água apenas quando banhar teu corpo e fizer de tua sede possibilidade de te sentir o ventre. Cuida bem dos teus olhos menina, não chore um silêncio depois que ele te invadir gritado. Não acarinhe a manhã se ela te doer nos olhos. Se ela logo te evidenciar a cor do teu dia.
Não sei se choro ou olho longínquo. Sem paisagem ou infinito. Sem você.
Cuida bem dos teus olhos criança, não os deixa afogados em teu medo e desejo. Não desespere seus sonhos, deixe-os em seus ninhos de amor e vontade.
No castanho dos olhos nos aproximamos, menina.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Quando Criança

Pintura - Picasso
Quando criança dava nome a todas as estrelas que contemplava. Maria, Letícia, Eva, Joana, Eulália, Beatriz. Todas enleios meus. Eram tristes esses devaneios, estavam sempre mergulhados num sentimento de solidão debelada. Um desvario com cheiro, inocência e amplidão. Uma criança com medo, poesia e cílios castanhos. Queria provar o gosto do seio de cada uma delas, calcar cada infinito pra chegar até elas, mesmo estando com peito cansado e coração repleto de sentimentos tenros. Quando criança, porco era “apuis”, água era puá, cigarro Hollywood era Luluiud, Continental era Comental. Tinha melhor vocabulário do que hoje.
Quando criança pedia desculpas a Deus por roubar manga no colégio, por comer escondido em baixo da mesa da cozinha a margarina do café; por não saber chorar baixinho. Quando criança roubava doces para as formigas, queria vê-las com os dentes cariados. Quando criança rezava em voz alta pra chegar amplificado aos ouvidos de minha avó, e lhe ouvir dizer: “Escuta Socorro o menino rezando!” Minha mãe ria compreendendo o meu rezar. Quando criança meus fantasmas de hoje ainda molhavam as fraudas, e eu pra não ficar pra trás os acompanhava. Quando criança provei do corpo de cristo e não gostei de senti-lo nas estrelas da boca. Quando criança tinha uma tristeza me habitando o paraíso.
Quando criança alucinava baixinho qualquer vontade de voar, pra não cair do alto de minha ilusão. Namorei uma menina da escola durante três meses sem ela saber; o namoro terminou assim que ela soube. Quando criança chorava em segredo o pranto miúdo de minha avó. Pintava com meu avô suas derradeiras ilusões de político, até ele partir politicamente correto de paletó, gravata e meias furadas.
Quando criança, tive a altivez de uma noite eterna. Quando criança, minha última estrela se chamou Socorro.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Todas as Cartas - Para a lua em nome da noite.


Pintura de Almeida Júnior



De minha paisagem de dentro te escrevo,


Saudações!

Delírios verbais.

Queria sair de mim para melhor me explicar. Mas infelizmente eu não sei me abandonar. Esse gosto de manhã em minha boca me perturba a noite, perturba a noite de mim. Não sei ser manhã. Eu não sei me abandonar. Em tudo sinto o avesso do verso que é minha alma. Um beijo insípido tenta meu vinho. Uma embriaguez qualquer alucina meu deus. Eu não sei me abandonar. Sei ser sozinho, mas não me abandonar. Quereria, mas não sei.

Ímpeto e serenidade.

Olhos e olhares e mãos e eu.

O choro se mistura a solidão de mim. Escrevo.
Quero saber qual o teu cheiro para a noite. Quero saber de tua tristeza e de tua alegria. Qual o teu medo? Quero te saber.
Você uma mulher vestida de tarde. De um entardecer contemplativo. Uma mulher vestida de crepúsculo. Mas com vazios existenciais tremendos. Deliciosamente triste, furiosamente delicada.

Maquiei meus fantasmas com batons, rímel e solidões. Com o cheiro de minha infância. Todas as minhas ausências são palpáveis. Um ser repleto de sendas, silêncio de cicatriz na pele. Chamam-me de poeta, mas não passo de uma sensação. De um olhar ainda por vir, de uma melancolia alegremente triste. Sensação.
Qual tua paisagem de agora? Que nudez veste teus delineamentos?
Eu não profiro nada, as palavras falam, as palavras falam-me todas as noites. Palavras são almas em delírios.
Não desejo ser subversivo com tua delicadeza. Mas não desejo falar de mim sem deixar que meus silêncios gritem, sem despir-me até do que é nudez. Com isso, confesso que choro lágrimas absurdas em madrugadas inteiras e febris, que recito em madrugadas outras, poemas extraídos do cerne de minha dor e existência. Toda minha vida foi e é tolerável pela poesia e loucura que em mim coexistem. Tenho sensações que desperta meu íntimo e põem para dormir meu medo. Acredito que já provasses da ousadia que experimentamos em nossos sonhos. Confesso que tirei dos mesmos as tentações e suas respectivas ousadias, e com elas procurei colori a realidade.

Aderi ao pecado por encontrar nele uma forma de vida mais intensa, mais humana, poética e prazerosa. Minhas preces são compostas pela essência dos meus pecados. Pelos sussurros das mulheres que tive e pela nudez ainda promessa.
Poupo-te da crueza de meus relatos mais insípidos. Quero apenas te mostrar a suavidade e o sangrar de cada angústia que me habita, de cada paixão que me consome e perturba. Por favor, uma dose de amor outro, para esse poeta que possui o hábito do pecado. Que cerra as pálpebras em devoção a tua fineza e recolhe mancinho a palavra, deixando que apenas o silêncio gesticule. Sinto ímpetos arrebatadores diante de tão enorme alma e de teus olhos meninos. Olhos a procura, olhos que parecem sozinhos quando na verdade multidão são. Diria que tuas pálpebras são outonais. Há um desfolhar poético e suave na estação dos teus olhos. Teus olhos falam, os meus são rascunho.

Meus delírios são lírios que ornamentam a loucura que tenho.
São meu vinho.

Por favor, uma palavra para o silêncio de mim.
E eu entenderia o meu pecado.

Nudez

Pintura de Giuseppe Dangelico




Em silêncio meus olhos rezam tua nudez.
Tua nudez é minha oração. Tua poesia meu saciar. Tua ausência minha fome.


Contemplando

T
U
A

N
U
D
E
Z


descobri que meu deus não usa vestes.