terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Testamento

Pintura Van Gogh
Para meus amigos deixo meus sapatos, minhas roupas, deixo os meus lençóis maculados de meus êxtases, meu perdão por amá-los. Deixo os meus segredos guardados há muito nas flores de um jardim que não houve. Deixo a lembrança do meu riso e minha tristeza obscena. Deixo o inaudito das músicas que me fizeram doer. Deixo os silêncios das músicas que compus, e sozinho cantei. Para meus amigos deixo minha loucura.
Deixo todos os presentes de aniversário que não recebi para as crianças que virão. Deixo para o mundo meus rascunhos. Deixo para Deus meu prazer de nunca tê-Lo conhecido. Também deixo-Lhe minha embriaguez e as primaveras que nunca contemplei.
Deixo meus aromas e meus sabores no pomar do passado. Deixo meus anéis como testemunho de que também fui material, mesmo pensando-os metafisicamente. Deixo a infância de minha alma. Deixo-me puerícia.
Deixo minhas borboletas, minha gilete, meu suicídio. Deixo as flores que roubei, meu paradoxo, meus textos rasgados, meus textos beijados, meus textos esquecidos. Deixo as cartas da Mari, os quadros do Nettzo e do Diel, e o conhecimento de mim que possui o Thiago C. Deixo vivo o meu algoz e suas palavras repletas do meu estilo, pois, lembrarão de mim ao vê-lo no hospício que criamos. Deixo o Márcio e o Amâncio como testemunho da intensidade com que provei a vida. Deixo para Sara e Bel alguns poemas repletos de suas respectivas alegrias, mas, que ainda são desconhecidos à ambas. Deixo toda essa fonte para o meu amigo-irmão Júnior Veras e a autorização da biografia que ele diz querer escrever, para que eu fique, mesmo quando aqui não mais estiver.
Deixo meus poemas nunca escritos para Lellis e os escritos também. Deixo meus livros e seus aromas empoeirados, e suas palavras nas quais tanto os meus olhos caminharam. Deixo meu lirismo para acolhê-la do frio e pôr pra dormir a saudade. Deixo pra ela meus olhos de entardecer, minhas tintas de entardecer, meus delírios de entardecer a manhã, minha vontade de anoitecer apenas para seu descanso. Também deixo aquelas ilusõezinhas que guardamos por baixo do travesseiro de nossos sonhos. Deixo meus ressuscitar.
Deixo o cerrar de minhas pálpebras como último gesto de amor, e meu silêncio como palavra, para ser sempre ecoada em seus ouvidos dispersos, em seus ouvidos atentos, seus ouvidos meus. Deixo meu amor sem sobra ou desperdício. Deixo meu amor inteiro, para ela.

PS: Não deixarei minhas mortes, essas não, essas eu as levo comigo.

6 comentários:

ebbios disse...

Vim colher um pouco de tuas palavras e elas vieram correndo me abraçar, como uma pessoa que se ama e que não se vê a muito - como nessas cenas clichês de filme, que imitam a vida, e que quando vivemos parecemos estar imitando a arte de alguém.

Me abaixei para abraçar um garotinho e ele pulou em mim. O seu esforço de subir uniu-se ao meu esforço de descer e o encontro foi sublime. Ele me contou alguns nomes que dava as suas estrelas e sua ternura me fez adora-lo.

Anônimo disse...

Alessandro deixa em teu testamento pelo menos o esquecimento de mim.Ficarei feliz. Beijo.

Anônimo disse...

hi, ale!!!
gracias por pasar por mi blog.
es bueno dejarle todo a los amigos, aunque lo que en verdad ellos reciben de nosotros será aquello que no es material.
besotes para usted, pibe romántico...
y te espero siempre en:
todas-y-ninguna.blogspot.com

Anônimo disse...

Esse � o testamento mais po�tico que j� vi. rsss

abra�os tua: De Paola

Lorene disse...

gostei do testamento ..
queria conhecer mais sobre você pra ajudar Jr. na biografia!

Anônimo disse...

Esse é um grande testamento........
parabéns amigo vc é um grande homem, busque sempre crescer amis naõ esqueça aqueles que continuaram pequenos, pois o verdadeiro sucesso está na humildade.

BEBEL